Cláudio Caldas

 

Obrigado do Fundo do Meu Quintal

Amigos do Samba...

Agradeço as manifestações bacanas e emocionantes de diversos amigos e amigas sobre a iniciativa deste sítio. O carinho de vocês mostra que o samba tem muitos simpatizantes e adeptos por este Brasil afora - se isso não é mercado... eu não entendo mesmo nada de fazer dinheiro. Pensamos numa forma de interagir com todos que lêem o Mora na Filosofia e criamos o e-mail moranafilosofia@netlan.net . Fique à vontade para escrever, sugerir, criticar ou simplesmente palpitar.

Nesta oportunidade pensei em falar sobre o trabalho do Jorge Aragão. Mas para fazer justiça vou beber da fonte onde beberam outros bambas como ele. Vocês concordarão comigo. Até porque tem muita gente que não sabe que na formação original do Grupo Fundo de Quintal, tinha Almir Guineto, Jorge Aragão, Sombrinha (na época chamado ainda de Nemézio), Bira Presidente, Sereno, Ubirany, e Neoci.


O Fundo de Quintal original, na contracapa do citado LP.

Juro que não lembrava quando eu havia comprado o primeiro LP do Fundo de Quintal. Tive que recorrer à estante onde guardo as velhas bolachas, adquiridas ainda quando eu morava no Rio. Constatei que o mais antigo, entre os onze LPs que possuo é de 1980: Samba é no Fundo do Quintal. Um excelente cartão de visitas de um grupo que se mantém vendendo muito até hoje, apesar das alterações em sua formação, que já contou também com Arlindo Cruz, inspiradíssimo compositor, e com Valter 7 Cordas.

Não dá para não registrar que a geração de amantes do samba, da qual faço parte, deve muito a este pessoal. Por eles ouvimos e curtimos vários pagodes. A começar pelas excelentes faixas deste primeiro disco que incluía, entre outros, sambas como Prazer da Serrinha (Hélio dos Santos e Rubens da Silva); Bar da Esquina (Jorge Aragão e Jotabe), Voltar à Paz (Sereno) e Gamação Danada (Neguinho da Beija Flor e Almir).

O Grupo Fundo de Quintal foi formado a partir de encontros realizados pelos sambistas do Bloco Carnavalesco Cacique de Ramos, lendário guardião do samba de raiz do subúrbio carioca. Naquela fonte foram buscar canções o produtor Rildo Hora e a cantora Beth Carvalho, que acabou madrinha do Fundo de Quintal. Saíram da quadra do Cacique com os batuqueiros para gravar um disco - Pé no Chão - onde os pagodeiros figuraram como músicos e instrumentistas. E as novidades começaram a surgir. Almir Guineto é o responsável pela introdução do banjo em grupos de samba, receita que levou o instrumento country americano a ter presença constante nos demais pagodes. O uso do repique de mão e do tão falado hoje tantã, nas formações musicais de samba, também se deve ao Fundo de Quintal. Alguém por aí lembra de ter visto ou escutado antes estes instrumentos nas rodas de samba?


O Fundo de Quintal da atualidade.

Sombrinha e Bira Presidente, dois batutas.

Muita coisa se deve ao Fundo de Quintal. Mas creio que a maior contribuição deles foi a de levar o bom samba aos ouvidos da classe média do Rio, inicialmente, e depois para todo o Brasil. O "boom" do pagode e do samba se deu após a consolidação do grupo, nas décadas de 80 e 90. Vida longa aos pagodeiros do Fundo de Quintal, a quem só temos que agradecer. Obrigado do fundo do nosso quintal!

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