Cláudio Caldas

A VIDA NOS FAZ ASSIM

Amigos do Samba...Tenho encontrado muita gente que gosta do bom samba. A cada encontro fico mais feliz e faço questão de continuar pesquisando, descobrindo e divulgando as produções ligadas a este ritmo tão brasileiro. Hoje quero apresentar - para quem não conhece ainda - uma voz feminina, que além de grande intérprete, mostra-se também muito boa compositora.

Teresa Cristina, uma carioca do bairro de Bonsucesso, um dia ouviu um disco de Candeia e resolveu pesquisar, ler a biografia e conhecer mais sobre aquela música. Mesmo sem nunca ter pensado em ser cantora decidiu montar um show em homenagem ao Mestre. Daí surgiu a vontade de conhecer a Velha Guarda da Portela e todos os seus bambas. Através dessa sadia obsessão passou a ter contato com Monarco, Casquinha, Jair do Cavaco, Argemiro e Wilson Moreira. O tal show não rolou até agora, mas em 1999 conheceu o pessoal do Grupo Semente que se apresentava na boêmia Lapa revigorada. Aí o casamento foi perfeito.


Teresa Cristina ao lado do Paulinho da Viola, rodeados pelo Grupo Semente

O Selo Biscoito Fino lançou, em 2001, o CD O Samba é Minha Nobreza, que juntava Cristina Buarque, Pedro Miranda e Teresa Cristina, entre outros. Foi a primeira participação da intérprete que continuou o trabalho com o Grupo Semente, lançando, em 2003, um CD duplo só com canções de Paulinho da Viola. O resultado é primoroso e imperdível. Agora, um novo CD do Grupo Semente mostra que a intérprete é também uma "baita" compositora.

A Vida Me Fez Assim é o título do CD que nos brinda com 15 belas canções, sendo oito de autoria da Teresa. Inspirada, a menina mostra todo o seu amor pela Azul e Branco de Madureira, na faixa Portela, em que diz:

"Se passas na Avenida decidida
Trocas de sambar com a vida
És de tirar o chapéu"


Teresa Cristina, Jair do Cavaco e Argemiro, gente da Portela.


Em outras belas canções como Candeeiro e O Passar dos Anos ela mostra que veio pra ficar. E que maravilha. O CD é muito bom e cuidadosamente gravado. Não dá pra deixar pra lá. Depois de tanto tempo, o samba, que andava saudoso de uma nova voz feminina no pedaço, ganha Teresa Cristina. Afinal o brasileiro se habituou com Elza Soares, Clara Nunes, Beth Carvalho e Alcione, vozes que marcaram o nosso samba . Sem falar de Nara Leão que teve a coragem de tirar das prateleiras esquecidas Cartola, Nélson Cavaquinho, Casquinha e tantos bambas que a classe média não conhecia.

Entre os compositores que completam o repertório do disco estão Silas de Oliveira, Candeia, Wilson Moreira, Nei Lopes, Zé Kéti, Élton Medeiros, que dispensam apresentação, e até Zé da Zilda, com o engraçado Calo de Estimação. Mas quero insistir que a grande surpresa é que Teresa Cristina faz o samba que a gente gosta. Ela compõe, em grande estilo, como os seus grandes ídolos.


Teresa Cristina e Argemiro

Se você ainda está na dúvida se adquire ou não o seu novo trabalho, eu termino com um de seus versos da faixa O Passar dos Anos, para acabar de vez com o impasse:

"O passar dos anos ao compositor
Faz desabrochar uma rosa
Dá à poesia porte, luz e cor
Melodia maliciosa".

 

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