Benza Deus !

Amigos do Samba...

Volto, sem dar muitas explicações sobre as razões da ausência. Até porque, leitor, prefiro falar dos estímulos que me levam a ocupar este espaço. O que me motivou a voltar pra esse nosso papo foi uma roda de samba. Ah, que bom é participar de uma autêntica roda!

Na semana passada - graças a Deus - participei da Feijoada do Sabará que, além de muito bem organizada e saborosa, contou com a presença de um dos mais queridos e inspirados compositores do nosso samba: Luiz Carlos da Vila, acompanhado do bom grupo Número Baixo, de Floripa. Mais uma vez vamos tratar aqui de uma alma que merece a maior reverência pelo trabalho e pelas obras.

Luiz Carlos da Vila é um carioca de Ramos, criado na Vila da Penha e integrante da Escola de Samba Unidos de Vila Isabel, para a qual criou nada menos que Kizomba, um dos últimos grandes sambas de enredo da história do carnaval carioca. Pela confusão das vilas é que Nei Lopes - outro bamba - o apelidou de Luiz Carlos das "Vilas". Autêntico representante do chamado samba de raiz, Luiz Carlos participou do movimento criado a partir da famosa Roda de Samba do Cacique de Ramos, de onde saíram outros craques como Arlindinho Cruz, Zeca Pagodinho, Almir Guineto e Jorge Aragão, para citar apenas estas quatro estrelas.

Fã de carteirinha de Candeia, gravou um disco só com obras do mestre e ainda é autor da linda "O sonho não acabou" onde afirma que


"a chama não se apagou,
nem se apagará,
és luz de eterno fulgor... Candeia,
o tempo que o samba viver,
o sonho não vai acabar
e ninguém irá esquecer Candeia".

Esta canção, de melodia primorosa, foi uma das inúmeras de Luiz Carlos da Vila gravadas por Beth Carvalho. Mas a madrinha do samba não foi quem, pela primeira gravou Luiz Carlos. Graças ao Mundo foi registrada em disco pelo Conjunto Nosso Samba, em 1970. Mas foi na década de 80 que outros intérpretes descobriram o nosso simpático "da Vila". Alcione, Beth Carvalho, Elza Soares, Nara Leão e Carmen Queiroz, além de Martinho da Vila, Roberto Ribeiro, Cláudio Jorge, Zeca Pagodinho e Mauro Diniz também registraram suas belas canções.

O Grupo Fundo de Quintal gravou o samba Doce Refúgio, talvez a mais conhecida de todas as suas canções, que se refere ao Bloco Carnavalesco Cacique de Ramos, onde


"o samba é alta bandeira,
e até as tamarineiras,
são da poesia guardiãs"

Foi com este poeta e sambista brilhante que estive no sábado passado, ele que pela primeira vez veio a Floripa, acompanhado por sua mãe e pela esposa. "Não imaginei que gostassem tanto dos meus sambas por aqui", dizia espantado. Sempre muito solícito, enalteceu o grupo "Número Baixo" que é muito harmônico e realmente sabe tudo de samba de raiz.

Ao pedir um autógrafo seu no livro No Princípio era a Roda, onde é muito citado, perguntei-lhe sobre seu contato com Nara Leão, divulgadora dos sambistas autênticos. "Nara participava das segundas-feiras no Teatro Opinião e freqüentava o "Amarelinho" da Cinelândia... lá esticava o ouvido num samba e aprendia toda a harmonia rapidinho..."

Uma boa pedida é adquirir o cd Benza Deus, por ele mesmo gravado, mostrando que está em plena forma após alguns problemas de saúde em 2004. Além da própria Benza Deus - parceria com Moacyr Luz, os sambas Solano, Poeta Negro, Chorando de saudade, Rara- esta em homenagem a D. Ivone Lara e Pra conquistar seu coração são imperdíveis, na minha opinião. O último cd do Zeca Pagodinho também traz um samba novo do Luiz Carlos da Vila... é só conferir Dizer não pro Adeus... mais uma obra prima do mestre "das Vilas".

Moçada, vou nessa. Desculpem a demora. Fiquem bastante á vontade para se manifestarem sobre este sítio e os temas aqui tratados. O endereço moranafilosofia@netlan.net está à disposição de vocês. Um abraço aos amigos do samba. .

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