Cláudio Caldas

Parabéns, madrinha de nós todos

Amigos do Samba...

Agradeço o carinho e as manifestações de todos os amigos do samba que aumentam a cada dia. Entre as sugestões encaminhadas para quando nos pedirem pra tocar Poeira, separo e socializo com vocês a que recebo do Gustavo Franco, que lembra a linda Volta por cima, de Paulo Vanzolini, gravado por Noite Ilustrada, em 1963. De fato. Pra todo mundo lembrar: "Um homem de moral/ Não fica no chão/ Nem quer que mulher lhe venha dar a mão / Reconhece a queda/ E não desanima/ Levanta, sacode a POEIRA e dá volta por cima". Grande lembrança Gustavo!

Um amigo das antigas, Paulo Caringi, faz uma alusão a um outro samba-enredo de 1971. Do nosso grande Império Serrano, Nordeste, seu canto, seu povo, sua glória embalou um dos melhores desfiles que o povo da Serrinha já fez no Carnaval carioca. E o samba é lindo mesmo... só pra lembrar um trecho: "Nordeste/ o canto da tua gente/ no Império está presente/ para se comunicar..." obra-prima de Heitor Achiles, Maneco e Wilson Diabo e que flechou o coração de gente como eu e o Paulo, nos tornando imperianos até morrer. Grato pela lembrança Presidente!

Neste mês de março Beth Carvalho comemora 40 anos de carreira, lançando um DVD e realizando shows no Rio e em Sampa. Uma boa oportunidade de rendermos homenagem a esta divulgadora do bom samba, que não só resgatou grandes compositores como Nélson Cavaquinho, Cartola e Nélson Sargento, como revelou e "apadrinhou" nada menos que o pessoal do Cacique de Ramos, entre os quais Zeca Pagodinho, Jorge Aragão, Luiz Carlos da Vila e o pessoal do Fundo de Quintal.

A bem da verdade, já li num livro da Joyce, que o samba não foi o seu ritmo preferido no início da carreira. Começou gravando Menescal e Bôscoli, bossa nova pura, e passou pelos grandes festivais dos anos 60, ficando conhecida como a intérprete de "Andança", uma balada romântica de Edmundo Souto, Paulinho Tapajós e Danilo Caymmi. A canção fez o maior sucesso e até hoje é cantada e admirada por todos os brasileiros. Foi através desta canção que conheci a carioca Elizabeth Santos Leal de Carvalho, nascida na Gamboa e fervorosa torcedora do Botafogo e da Mangueira.

O primeiro disco da Beth que me lembro de ter em casa era o que trazia Folhas Secas, de Nélson Cavaquinho. Um dos mais belos sambas deste super compositor que conheci e passei a admirar graças aos inúmeros trabalhos apresentados pela cantora. O LP Canto por um novo dia, trazia também Clementina de Jesus, uma linda homenagem de Gisa Nogueira, A velhice da porta-bandeira e Se é pecado sambar entre outros. O sucesso foi grande e passei a acompanhar os passos da já sambista Beth Carvalho. Tive a sorte até de, quando estudei num colégio da Tijuca, o Anderson, ter um maior contato com a cantora, através de um professor de português, Gérson, que sempre tentava "emplacar" alguma canção de sua autoria nos discos da Beth.

Provavelmente em 1972 ou 73, participei da BC Produções Artísticas, uma produtora que a Beth Carvalho e o João Nogueira costuraram, para cuidar de seus shows e apresentações no Rio. Uma época em que pude freqüentar, toda segunda-feira, o Teatro Opinião e conviver um pouco com Beth Carvalho, Nélson Cavaquinho, Guilherme de Brito, João Nogueira, Cartola, Joel do Nascimento, Sílvio César e Agepê, todos na "aba" da BC Produções. Nossa participação - minha e do meu amigo Júlio - era sonorizar e cuidar do som nas apresentações. Não era mole freqüentar as aulas nas terças-feiras, mas o que eu me deliciei dividindo mesa de bar com Nélson Cavaquinho, João Nogueira e outros, compensava o sono.

João Nogueira e Beth Carvalho

O tempo passou e perdi contato com essa gente. Mas virei um admirador do trabalho da Beth Carvalho que, há que se reconhecer, sempre resgatou o bom samba e, mais tarde, com a descoberta do Cacique de Ramos, deu-lhe, em especial, uma visibilidade nacional. Gravou Jorge Aragão, Almir Guineto e Neoci Dias num disco memorável e histórico para o samba. Foi um marco na história a introdução do jeito "fundodequintaliano" de tocar instrumentos e de fazer uma "cozinha" completamente diferente de tudo que se conhecia até então. Os LPs Pé no Chão, de 1978 e Beth Carvalho no Pagode de 1979 colocaram a sambista no topo das paradas e introduziram o samba nas rádios FM, que haviam ressurgido no Rio da época. Todos os recordes de vendagem foram obtidos com os sambas Vou festejar, de Jorge Aragão, Neoci Dias e Dida e Coisinha do Pai, de Jorge Aragão, Almir Guineto e Luiz Carlos da Vila. Aqui se risca o chão. Dali em diante o pagode e o bom samba passaram a ser respeitados no mercado fonográfico e as gravações foram melhorando de qualidade, com as gravadoras investindo pesado e faturando muito com tudo isso.

No 40º aniversário de carreira da "Madrinha de nós todos", são relembradas obras gravadas em 29 discos, de vendagem próxima das 10 milhões de cópias e marca a produção do DVD "A Madrinha do Samba ao Vivo Convida", o primeiro dela, com participações de Monarco, Velha Guarda da Portela, Dona Ivone Lara, Luiz Carlos da Vila, Zeca Pagodinho, e Hamilton de Holanda. São 35 sambas apresentados da forma mais descontraída e em clima de festa. Mais um item imperdível para os amigos do samba.

Moçada, vou nessa. Fiquem bastante à vontade para se manifestarem sobre este sítio e os temas aqui tratados. O endereço moranafilosofia@netlan.net está a disposição de vocês. Um abraço e Boa Páscoa aos amigos do samba. .

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